cortar papéis
por sua textura e estampa
e deles extrair cartões e cartas
pode equivaler a molhar plantas e crianças
e se desviar por um instante num traço de luz
que atravessa planta água criança.
Umwelt .j
sábado, 5 de janeiro de 2013
sábado, 15 de dezembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
segunda-feira, 21 de maio de 2012
...e os bichos pequenos iam se acalmando na medida em que lia Blanchot.
Princípio-ar
O tempo é capaz de um truque mais
estranho. Certo incidente insignificante, que ocorreu em dado momento, outrora,
esquecido, e não apenas esquecido, despercebido, eis que o curso do tempo o
traz de volta, e não como uma lembrança, mas como um fato real¹!,
que acontece de novo, num novo momento do tempo. Assim o passo que tropeça nas
pedras mal niveladas do pátio dos Guermantes é de repente - nada é mais súbito
- o mesmo passo, não "um duplo, um
eco de uma sensação passada ... mas essa própria sensação". Incidente
ínfimo, perturbador, que rasga a trama do tempo e por esse rasgão nos introduz
em outro mundo: fora do tempo, diz Proust com precipitação. Sim, afirme ele, o
tempo esta abolido, já que, numa captura real, fugidia mas irrefutável, agarro
o instante de Veneza e o Instante de Guermantes, não um passado e um presente,
mas uma mesma presença que faz coincidir, numa simultaneidade sensível,
momentos incompatíveis, separados por
todo o curso da duração. Eis portanto o tempo apagado pelo próprio
tempo; eis a morte, essa morte que é obra do tempo, suspensa, neutralizada
tomada vã e inofensiva. Que instante! Um momento "liberto da ordem do tempo", e que recria em mim "um homem liberto da ordem do
tempo".
Mas logo, por uma contradição que ele mal
percebe, de tão necessária e fecunda, Proust diz, quase por descuido, que esse
minuto fora do tempo lhe permitiu "obter,
isolar, imobilizar da duração de um raio - o que ela nunca apreende: um pouco
de tempo em estado puro". Porque essa inversão? Por que aquilo que
esta fora do tempo põe a seu dispor o tempo puro? É que, por essa simultaneidade
que fez juntarem-se realmente o passo de Veneza e o passo de Guermantes, o
então do passado e o aqui do presente, como dois agoras levados a se sobrepor,
pela conjunção desses dois presentes que abolem o tempo, Proust teve também a
experiência incomparável, única, da estase do tempo. Viver a abolição do tempo,
viver esse movimento, rápido como um "raio", pelo qual dois
instantes, infimamente separados, vêm (pouco a pouco, embora imediatamente) ao
encontro um do outro, unido-se como duas presenças que, pela metamorfose do
desejo, se identificassem, é percorre toda a realidade do tempo e,
percorrendo-a, experimentar o tempo como espaço e lugar vazio, isto é livre dos
acontecimentos que geralmente o preenchem. Tempo puro, sem acontecimentos,
vacância móvel, distância agitada, espaço interior em devir onde as estases do
tempo se dispõem numa simultaneidade fascinante, o que é tudo isso, afinal? É o
próprio tempo da narrativa, o tempo que não esta fora do tempo, mas que se
experimenta como um exterior, sob a forma de um espaço, esse espaço imaginário
onde a arte encontra e dispõe seus recursos.
1. Trata-se,
naturalmente, para Proust e na linguagem de Proust , de um fato psicológico, de
uma sensação, como ele diz.
terça-feira, 19 de abril de 2011
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